A intimidade a que Ernestina os obrigara autorizara aquilo.
Sara encostou-se ao paredão, olhando para o mar. Uma expressão de indefinível doçura espalhou-se-lhe pela fisionomia, até aí radiante de alegria. Sobre a sua cabeça estendia os braços um formidável magnólia escura, em que as flores pálidas vazavam dos seus copos marfíneos o aroma da paixão, violento e entontecedor. Ao longe, do pavilhão das ipoméias, vinham os sons da banda com os seus clarins sonoros, e lá em cima, no azul tranqüilo do céu, a lua ia rolando, lentamente!
Luciano contemplava extático a órfã do seu velho rival. Ela tinha os braços nus, brancos e estendidos para a frente, as mãos sobre as pedras esverdeadas do muro, os olhos entrecerrados acompanhando as ondas, que iam e vinham brandamente, queixosas.
Luciano contemplava-a assim, achando-a bizarra naquele traje quente que envolvia, como uma injúria, o seu corpo delicado e virginal, sentindo-a ao mesmo tempo mais cândida, mais ideal, mais doce do que nunca! Aquela cisma e súbita melancolia da moça tornavam-na como que uma imagem de santa milagrosa, que ele tivesse visto surgir por encanto daquelas flores ou daquele mar. Ora desejava vê-la sempre assim, imóvel e serena, ora sentia ímpetos de a beijar, de a morder, de lhe dizer que a amava!