Página:A Viuva Simões.djvu/148

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- Por que diabo não se casará ela de uma vez?!

Quando voltou para dentro, encontrou a viúva Simões em frente do espelho, compondo os anéis do cabelo.

Mirou-a toda. Nem um vestígio de luto no seu traje!

Ernestina levava um vestido de seda mole, que lhe caía rente ao corpo, mostrando-lhe as formas delicadas da cinta, do seio e das pernas. Tinha nas orelhas duas safiras, a pedra da felicidade, que sorriam nas suas cintilações como dois olhos de anjo rebelde. Por toda ela escorria um aroma quente.

- Esse vestido é novo? perguntou a ama.

- É; não vê que tem a cor da moda?

- Azul... ou cinzento...?

- Azul elétrico.

- Ah!.. não sei que mais hão de inventar! Iaiá agora anda muito chic !...

Ernestina sorriu; mas depressa as sobrancelhas contraíram-se, formando-lhe uma ligeira ruga acima do nariz; esteve um momento silenciosa, pensativa e imóvel; tornou, porém, depressa a alisar com a mão a seda do corpinho. Tirou do bolso uma caixinha redonda, pouco maior do que uma noz, abriu-a, puxou por um pom-pom quase microscópico e agitou sobre o rosto com toda a sutileza, espalhando uma nuvenzinha de pó de arroz.