- Sim... são ambos moços... Luciano baixou a cabeça entristecido por aquela confidência, pensando na felicidade do outro. Ernestina compreendeu-o talvez e agarrou-lhe na mão com doçura, falando-lhe baixinho e tratando-o por tu, pela primeira vez.
- Oh! meu Luciano, como te amo! Como eu te quero bem! Havemos de ser felizes... Há tantos anos já que nós sonhávamos com essa felicidade!... Lembras-te? Eu era ainda menina! Quando vesti o meu primeiro vestido de mulher, eu já te amava! Foste tu que despertaste o meu primeiro sonho... serás tu quem me feche caridosamente os olhos quando eu morrer, beijando-te! Meu marido! Meu marido! Luciano! Lembro-me ainda de todas as palavras que me dizias há vinte anos!... Dize-me outra vez que me amas... Estás triste!... Eu daria todo o meu sangue para que fosses feliz! Amo-te assim.
Luciano ia sentindo reviver pouco a pouco o amor. Sara amava outro? Que amasse! Era tempo de acabar com aquilo; que se casassem depressa e lhe fugissem dos olhos.
Ernestina falava agora, falava sempre, já sem calma, feliz, desatando frases de queixa, de censura, de desespero e de amor, deslumbrando Luciano com a sua voz quente, a sua formosura miraculosamente rejuvenescida nessa hora de enlevo e de paixão ardente e concentrada.