Ele já não a observa com reserva, mas com admiração.
A pouco e pouco a palidez mate, o luminoso olhar da viúva, toda aquela febre em que ela se revolvia, iam-lhe acendendo desejos de a apertar nos braços. Ela percebeu isso e postou-se defronte dele, com o corpo arfando sob a seda mole do vestido e a cabeça inclinada como a pedir beijos.
Luciano ergueu-se desvairado e quis beijá-la, ela furtou-se a isso nuns movimentos arredondados e lânguidos, e, baixando a cabeça muito risonha e feliz, disse-lhe quase num murmúrio:
- Depois...
Foi então Luciano quem prometeu ir falar ao Eugênio e combinou a maneira de o fazer sem indiscrição. A viúva envolvia-o num longo olhar voluptuoso e perturbante, ele ia prometendo tudo quanto ela queria e mandava.
- Amanhã ficará tudo acabado? perguntou-lhe por fim Ernestina.
- Assim o espero.
- Adeus.
Nessa tarde, Ernestina ao tirar no seu quarto o lindo vestido de seda, parou em frente ao espelho, olhando para os braços e o colo nus, de um moreno delicado que a luz tingia de um reflexo dourado. Contemplou-se por muito tempo e concluiu triunfante:
- Sara é moça, mas eu sou mais bonita!