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Página:A Viuva Simões.djvu/186

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a luz vinha amarelada e frouxa, iluminar a cabeça desfalecida da viúva.

Luciano contemplava atônito; parecia-lhe incrível que se envelhecesse tão depressa! Havia menos de um mês que não via Ernestina; deixara-a fresca, louçã, tentadora, vinha encontrá-la amolecida, pálida, cheia de cabelos brancos. Uma grande piedade substituía agora o seu amor tempestuoso e antigo. Um filho não teria carinho mais doce nem mais respeitoso para sua mãe!

Quando chegaram ao portão do jardim, Ernestina voltara a si. O cocheiro desceu da boléia e abriu a portinhola, sacudindo barulhentamente a água que lhe escorria do capote de borracha. A noite estava ainda trevosa; dentro, através das grades, viam-se as janelas do chalet, cujos vidros, molhados, coavam uma luz pálida e triste. Luciano ajudou Ernestina a apear-se.

O carro voltou, enterrando as rodas na lama, com uma bulha surda. A viúva Simões mal se podia arrastar, e a travessia do jardim foi vagarosa; em torno deles as flores, abafadas pela chuva, tinham um aroma discreto e vago. Uma ou outra gota de chuva, retida nas folhas e despenhada agora das árvores, caía como uma lágrima fria sobre a cabeça nua de Ernestina. Ela lá não podia mover as pernas; um grande peso paralisava-lhe as forças; a voz sumiu-se-lhe também e de tal jeito que só pôde