teve uma vertigem. A luz cegou-a, o aroma entonteceu-a. Encostou-se ao umbral. Não passava ninguém, a casa parecia deserta; a viúva recobrou alento e atravessou o corredor, descalça, com os artelhos nus, pensando em ir encontrar a filha amortalhada, no cetim branco das esponsais, com a grinalda de virgem e o véu castíssimo esparso em ondas sobre as suas opulentas tranças loiras...
Foi desse modo, sem ser pressentida, até ao quarto de vestir da filha, e, sempre muda e atenta, aproximou-se da alcova. Dali não podia ver Sara, encoberta pelas costas e o cortinado do leito. Tinha ainda medo... medo de entrar naquele quarto... medo de se aproximar da filha! Junto à mesa, de que só via um ângulo, estava sentado um homem; divisava-lhe a orla das calças cinzentas e os pés que se moviam nervosamente.
Georgina olhava para fora, com o rosto unido aos vidros. O seu corpo de menina tino e chato, ondulava com o esforço da respiração, e os cotovelos pontudos, erguidos à altura das orelhas, que as mãos cruzadas sobre a nuca encobriam, faziam cismar no desejo das asas, asas que se batessem pelo azul fora levando aquele coração de pomba para bem longe das misérias da vida!
Perto da cama, D. Candinha e Josefa cochichavam, curvando-se para a doente. Transparecia a dor no perfil de ambas.
Ernestina deu mais dois passes para diante.