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A cidade e as serras
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era uma massa de fórmas negras, madeira negra, pedra negra, densas negruras de felugem secular. E n’este negrume refulgia a um canto, sobre o chão de terra negra, a fogueira vermelha, lambendo tachos e panellas de ferro, despedindo uma fumarada que fugia pela grade aberta no muro, depois por entre a folhagem dos limoeiros. Na enorme lareira, onde se aqueciam e assavam as suas grossas peças de porco e boi os Jacinthos medievaes, agora desaproveitada pela frugalidade dos caseiros, negrejava um poeirento montão de cestas e ferramentas; e a claridade toda entrava por uma porta de castanho, escancarada sobre um quintalejo rustico em que se misturavam couves lombardas e junquilhos formosos. Em roda do lume um bando alvoroçado de mulheres depennava frangos, remexia as caçarolas, picava a cebola, com um fervor afogueado e palreiro. Todas emmudeceram quando apparecemos — e d’entre ellas o pobre Melchior, estonteado, com o sangue a espirrar na nedia face d’abbade, correu para nós, jurando «que o jantarinho de suas Incellencias não demorava um credo»...

— E a respeito de camas, oh amigo Melchior?

O digno homem ciciou uma desculpa encolhida «sobre enxergasinhas no chão...».