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A cidade e as serras
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se riam... Mas agora, aqui, o Snr. D. Jacintho, tambem vae engordar e enrijar!

O bom caseiro sinceramente cria que, perdido n’esses remotos Parizes, o Senhor de Tormes, longe da fartura de Tormes, padecia fome e mingava... E o meu Principe, na verdade, parecia saciar uma velhissima fome e uma longa saudade da abundancia, rompendo assim, a cada travessa, em louvores mais copiosos. Diante do louro frango assado no espeto e da salada que elle appetecera na horta, agora temperada com um azeite da serra digno dos labios de Platão, terminou por bradar: — «É divino!» Mas nada o enthusiasmava como o vinho de Tormes, cahindo d’alto, da bojuda infusa verde — um vinho fresco, esperto, seivoso, e tendo mais alma, entrando mais na alma, que muito poema ou livro santo. Mirando, á vela de sèbo, o copo grosso que elle orlava de leve espuma rosea, o meu Principe, com um resplendôr d’optimismo na face, citou Virgilio:

Quo te carmina dicam, Rethica? Quem dignamente te cantará, vinho amavel d’estas serras?

Eu, que não gosto que me avantagem em saber classico, espanejei logo tambem o meu Virgilio, louvando as doçuras da vida rural:

Hanc olim veteres vitam coluere Sabini...