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A cidade e as serras
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o respeito devido á secular nobreza da casa.

— Ora! até ficam mal ao Snr. Fernandes essas ideias, n’este seculo da liberdade... Pois estamos lá em tempos de se fallar em fidalguias, agora que por toda a parte anda tudo em Republica? Leia o Seculo, Snr. Fernandes! leia o Seculo, e verá! E depois eu sempre quero vêr o Snr. D. Jacintho, aqui no inverno, com o nevoeiro a subir do rio logo pela manhã, e a friagem a trespassar os ossos, e ventanias que atiram carvalheiras de raizes ao ar, e chuvas e chuvas que se desfaz a serra!... Olhe, até mesmo por amor da saude o Snr. D. Jacintho, que é fraquinho e acostumado á cidade, necessita sahir da serra. Em Montemór, em Montemór é que s. ex.a estava bem. E o Snr. Fernandes, tão amigo d’elle e assim com tanta influencia, devia teimar, e berrar, até que o levasse para Montemór.

Mas, infelizmente para a quietação do Silverio, Jacintho lançára raizes, e rijas, e amorosas raizes na sua rude serra. Era realmente como se o tivessem plantado d’estaca n’aquelle antiquissimo chão, d’onde brotára a sua raça, e o antiquissimo humus refluisse e o penetrasse todo, e o andasse transformando n’um Jacintho rural, quasi vegetal, tão do