talheres, em tinta vermelha, sobre laminas de marfim. Começava honradamente por ostras classicas, de Marennes. Depois apparecia uma sopa d’alcachofras e ovas de carpa...
— É bom?
Jacintho encolheu desinteressadamente os hombros:
— Sim... Eu não tenho nunca appetite, já ha tempos... Já ha annos.
Do outro prato só comprehendi que continha frangos e tubaras. Depois saboreariam aquelles senhores um filete de veado, macerado em Xerez, com gelêa de noz. E por sobremeza simplesmente laranjas geladas em ether.
— Em ether, Jacintho?
O meu amigo hesitou, esboçou com os dedos a ondulação d’um aroma que s’evola.
— É novo... Parece que o ether desenvolve, faz afflorar a alma das fructas...
Curvei a cabeça ignara, murmurei nas minhas profundidades:
— Eis a Civilisação!
E, descendo os Campos Elyseos, encolhido no paletot, a cogitar n’este prato symbolico, considerava a rudeza e atolado atrazo da minha Guiães, onde desde seculos a alma das laranjas permanece ignorada e desaproveitada dentro dos gomos sumarentos, por todos