Página:A cidade e as serras (1901).pdf/74

Wikisource, a biblioteca livre
60
A cidade e as serras

o Figaro amavel, e confessava quanto tremera... Eu voltei ao meu café, felicitando mentalmente o Principe da Gran-Ventura por aquella perfeita flôr de Civilisação que lhe perfumava a vida. Pensei então na apurada harmonia em que se movia essa flôr. E corri vivamente á ante-camara, verificar diante do espelho o meu penteado e o nó da minha gravata. Depois recolhi á sala de jantar, e junto da janella, folheando languidamente a Revista do Seculo XIX, tomei uma attitude de elegancia e d’alta cultura. Quasi immediatamente elles reappareceram: e Madame d’Oriol, que, sempre sorrindo, se proclamava espoliada, nada encontrára que recordasse as agoas furiosas, roçou pela mesa, onde Jacintho procurava, para lhe offerecer, tangerinas de Malta, ou castanhas geladas, ou um biscouto molhado em vinho de Tokai.

Ella recusava com as mãos guardadas no regalo. Não era alta, nem forte — mas cada prega do vestido, ou curva da capa, cahia e ondulava harmoniosamente, como perfeições recobrindo perfeições. Sob o véo cerrado, apenas percebi a brancura da face empoada, e a escuridão dos olhos largos. E com aquellas sêdas e velludos negros, e um pouco do cabello louro, d’um louro quente, torcido fortemente sobre as pelles negras que lhe orlavam