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A CIDADE E AS SERRAS

— Para o campo? O quê! Para o campo?!

E na sua face enrugada, através deste berro, lampejava sempre tanta indignação, que eu curvava os ombros, humilde, no arrependimento de ter afrontosamente ultrajado o Príncipe que tanto amava. Desventurado Príncipe! Com o seu dourado cigarro de Yaka a fumegar, errava então pelas salas, lenta e murchamente, como quem vaga em terra alheia sem afeições e sem ocupações. Esses desafeiçoados e desocupados passos monotonamente o traziam ao seu centro, ao gabinete verde, à Biblioteca de ébano, onde acumulara Civilização nas máximas proporções, para gozar nas máximas proporções a delícia de viver. Espalhava em torno um olhar farto. Nenhuma curiosidade ou interesse lhe solicitavam as mãos, enterradas nas algibeiras das pantalonas de seda, numa inércia de derrota. Anulado, bocejava com descoroçoada moleza. E nada mais instrutivo e doloroso do que este supremo homem do século xix, no meio de todos os aparelhos reforçadores dos seus órgãos, e de todos os fios que disciplinavam ao seu serviço as forças Universais, e dos seus trinta mil volumes repletos de saber dos séculos — estacando, com as mãos derrotadas no fundo das algibeiras, e exprimindo, na face e na indecisão mole dum bocejo, o embaraço de viver!

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