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A CIDADE E AS SERRAS

— Com mil demónios! Eu nunca vi a Basílica...

— Bem, bem! Vamos à Basílica, homem fatal de Noronha e Sande!

E por fim logo que começámos a penetrar, para além de S. Vicente de Paula, em bairros estreitos e íngremes, duma quietação de província, com muros velhos fechando quintalejos rústicos, mulheres despenteadas cosendo à soleira das portas, carriolas desatreladas descansando diante das tascas, galinhas soltas picando o lixo, cueiros molhados secando em canas — o meu fastidioso camarada sorriu àquela liberdade e singeleza das coisas.

A vitória parou em frente à larga rua de escadarias que trepa, cortando vielazinhas campestres, até à esplanada, onde, envolta em andaimes, se ergue a Basílica imensa. Em cada patamar barracas de arraial devoto, forradas de paninho vermelho, transbordavam de Imagens, Bentinhos, Crucifixos, Corações de Jesus bordados a retrós, claros molhos de Rosários. Pelos cantos, velhas agachadas resmungavam a Ave-Maria. Dois padres desciam, tomando risonhamente uma pitada. Um sino lento tilintava na doçura cinzenta da tarde. E Jacinto murmurou, com agrado:

— É curioso! Mas a Basílica em cima não nos interessou, abafada em tapumes e andaimes, toda branca e seca, de pedra muito nova, ainda sem alma. E Jacinto, por um impulso bem Jacíntico, caminhou gulosamente para a borda do terraço, a contemplar Paris. Sob o céu cinzento, na planície

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