rocalhados, e os monstros do Japão, e a galante fragilidade dos Saxes, e as peles de feras estiradas aos pés de sofás adormecedores, e os biombos de Aubusson formando alcovas favoráveis e lânguidas... Aninhada numa cadeira de bambu lacada de branco, entre almofadas aromatizadas de verbena da Índia, com um romance pousado no regaço, ela esperava o seu amigo, numa certa indolência passiva e mansa que me lembrava sempre o Oriente e um Harém. Mas, pelas frescas sedinhas Pompadour, parecia também uma marquesinha de Versalhes cansada do grande século; ou então, com brocados sombrios e largos cintos cravejados, era como uma veneziana, preparada para um Doge. A minha intrusão, na intimidade daquelas tardes, não a contrariava — antes lhe trazia um vassalo novo, com dois olhos novos para a contemplar. Eu era já o seu cher Fernandez!
E apenas descerrava os lábios avivados de vermelho, semelhantes a uma ferida fresca, e começava a chalrar — logo nos envolvia o borborinho e a murmuração de Paris. Ela só sabia chalrar sobre a sua pessoa que era o resumo da sua Classe, e sobre a sua existência que era o resumo do seu Paris: — e a sua existência, desde casada, consistira em ornar com suprema ciência o seu lindo corpo; entrar com perfeição numa sala e irradiar; remexer os estofos e conferenciar pensativamente com o grande costureiro; rolar pelo Bois pousada na sua vitória como uma imagem de cera; decotar e branquear o colo; debicar uma perna de galinhola em mesas de luxo; fender turbas ricas em bailes espessos; adormecer com a