vaidade esfalfada; percorrer de manhã, tomando chocolate, os «Ecos» e as «Festas» do Fígaro; e de vez em quando murmurar para o marido — «Ah, és tu?...» Além disso, ao lusco-fusco, num sofá, alguns curtos suspiros, entre os braços de alguém a quem era constante. Ao meu Príncipe, nesse ano, pertencia o sofá. E todos estes deveres de Cidade e de Casta os cumpria sorrindo. Tanto sorrira, desde casada, que já duas pregas lhe vincavam os cantos dos beiços, indelevelmente. Mas nem na alma, nem na pele, mostrava outras máculas de fadiga. A sua Agenda de Visitas continha mil e trezentos nomes, todos do Nobiliário. Através, porém, desta fulgurante sociabilidade arranjara no cérebro (onde decerto penetrara o pó de arroz que desde o colégio acamava na testa) algumas Ideias Gerais. Em Política era pelos Príncipes; e todos os outros «horrores», a República, o Socialismo, a Democracia que se não lava, os sacudia risonhamente, com um bater de leque. Na Semana Santa juntava às rendas do chapéu a Coroa amarga dos espinhos — por serem esses, para a gente bem-nascida, dias de penitência e de dor. E, diante de todo o Livro ou de todo o Quadro, sentia a emoção e formulava finamente o juízo, que no seu Mundo, e nessa Semana, fosse elegante formular e sentir. Tinha trinta anos. Nunca se embaraçara nos tormentos duma paixão. Marcava, com rígida regularidade, todas as suas despesas num Livro de Contas encadernado em pelúcia verde-mar. A sua religião íntima (e mais genuína do que a outra, que a levava todos os domingos à missa de S. Filipe du Roule) era a Ordem. No Inverno, logo que na
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