algum recado mole pelo telefone, espalhando o olhar desalentado sobre o saber imenso dos trinta mil livros, remexendo a colina dos Jornais e Revistas, terminava por me chamar, já com a preguiça triste da façanha a que se impelia:
— Vamos a casa de Madame de Oriol, Zé Fernandes? Eu tinha marcadas para hoje seis ou sete coisas, mas não posso, é uma seca! Vamos a casa de Madame de Oriol... Ao menos lá, às vezes, há um bocado de frescura e paz.
E foi numa dessas tardes, em que o meu Príncipe assim procurava desesperadamente um «bocado de frescura e paz», que encontrámos, ao meio da escadaria suave, entre as palmeiras, o marido de Madame de Oriol. Eu já o conhecia — porque Jacinto mo mostrara uma noite, no Grand Café, ceando com dançarinas do Moulin Rouge. Era um moço gordalhufo, indolente, de uma brancura crua de toucinho, com uma calvície já séria e já lustrosa, constantemente acariciada pelos seus gordos dedos carregados de anéis. Nessa tarde, porém, vinha vermelho, todo emocionado, calçando as luvas com cólera. Estacou diante de Jacinto — e sem mesmo lhe apertar a mão, atirando um gesto para o patamar:
— Visita lá acima? Vai achar a Joana em péssima disposição... Tivemos uma cena, e tremenda.
Deu outro puxão desesperado à luva cor de palha, já esgaçada:
— Estamos separados, cada um vive como lhe apetece, é excelente! Mas em tudo há medida e forma... Ela tem o meu nome, não posso consentir que em Paris, com conhecimento de todo o Paris, seja a amante do trintanário. Amantes