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A CIDADE E AS SERRAS

da nossa roda, vá! Um lacaio, não!... Se quer dormir com os criados que emigre para o fundo da provincia, para a sua casa de Corbelle. E lá até com os animais!... Foi o que eu lhe disse! Ficou como uma fera.

Sacudiu então a mão de Jacinto que «era da sua roda» — rebolou pela escadaria florida e nobre. O meu Príncipe, imóvel nos degraus, de face pendida, cofiava lentamente os fios pendidos do bigode. Depois, olhando para mim, como um ser saturado de tédio e em quem nenhum tédio novo pode caber:

— Já agora subamos, sim?


Parti então, com muita alegria, para a minha apetecida romagem às Cidades da Europa.

Ia viajar!... Viajei. Trinta e quatro vezes, à pressa, bufando, com todo o sangue na face, desfiz e refiz a mala. Onze vezes passei o dia num vagão, envolto em poeirada e fumo, sufocado, a arquejar, a escorrer de suor, saltando em cada estação para sorver desesperadamente limonadas mornas que me escangalhavam a entranha. Catorze vezes subi derreadamente, atrás dum criado, a escadaria desconhecida dum Hotel; e espalhei o olhar incerto por um quarto desconhecido; e estranhei uma cama desconhecida, de onde me erguia, estremunhado, para pedir em línguas desconhecidas um café com leite que me sabia a fava, um banho de tina que me cheirava a lodo. Oito vezes travei bulhas abomináveis na rua com cocheiros que me espoliavam. Perdi uma chapeleira, quinze lenços, três ceroulas, e duas botas,

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