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A CIDADE E AS SERRAS

uma branca, outra envernizada, ambas do pé direito. Em mais de trinta mesas-redondas esperei tristonhamente que me chegasse o boeuf-à-la-mode, já frio, com molho coalhado — e que o copeiro me trouxesse a garrafa de Bordéus que eu provava e repelia com desditosa carantonha. Percorri, na fresca penumbra dos granitos e dos mármores, com pé respeitoso e abafado, vinte e nove Catedrais. Trilhei molemente, com uma dor surda na nuca, em catorze museus, cento e quarenta salas revestidas até aos tectos de Cristos, heróis, santos, ninfas, princesas, batalhas, arquitecturas, verduras, nudezes, sombrias manchas de betume, tristezas das formas imóveis!... E o dia mais doce foi quando em Veneza, onde chovia desabaladamente, encontrei um velho inglês de penca flamejante que habitara o Porto, conhecera o Ricardo, o José Duarte, o Visconde do Bom Sucesso, e as Limas da Boa Vista... Gastei seis mil francos. Tinha viajado.

Enfim, numa bendita manhã de Outubro, na primeira friagem e névoa de Outono, avistei com enternecido alvoroço as cortinas de seda ainda fechadas no meu 202! Afaguei o ombro do Porteiro. No patamar, onde encontrei o ar macio e tépido que deixara em Florença, apertei os ossos do Grilo excelente:

— E Jacinto? O digno negro murmurou, de entre os altos, reluzentes colarinhos:

— S. Ex.a circula... Pesadote, fartote. Entrou tarde do baile da Duquesa de Loches... Era o contrato de casamento de Mademoiselle de Loches... Ainda tomou antes de se deitar, um chá gelado...

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