VIII
Ao fim desse Inverno escuro e pessimista, uma manhã que eu preguiçava na cama, sentindo através da vidraça cheia de sol ainda pálido um bafo de Primavera ainda tímido — Jacinto assomou à porta do meu quarto, revestido de flanelas leves, duma alvura de açucena. Parou lentamente à beira dos colchões, e, com gravidade, como se anunciasse o seu casamento ou a sua morte, deixou desabar sobre mim esta declaração formidável:
— Zé Fernandes, vou partir para Tormes.
O pulo com que me sentei abalou o rijo leito de pau-preto do velho D. Galião:
— Para Tormes? Oh Jacinto, quem assassinaste?...
Deleitado com a minha emoção, o Príncipe da Grã-Ventura tirou da algibeira uma carta, e encetou estas linhas, já decerto relidas, fundamente estudadas:
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