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Página:A cidade e as serras (1912).djvu/161

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A CIDADE E AS SERRAS

rancorosas, rosnando como uma fera. E ainda assim se escoou, às gotas, uma hora cheia de eternidade. — Um silvo, outro silvo!... Luzes mais fortes, longe, palpitaram na neblina. As rodas trilharam, com rijos solavancos, os encontros de carris. Enfim, Medina!... Um muro sujo de barracão alvejou — e bruscamente, à portinhola aberta com violência, aparece um cavalheiro barbudo, de capa à espanhola, gritando pelo sr. D. Jacinto!... Depressa! depressa! que parte o comboio de Salamanca.

— «Que no hay un momento, caballeros! Que no hay un momento!»

Agarro estonteadamente o meu paletó, o Jornál do Comércio. Saltámos com ânsia : — e, pela plataforma, por sobre os trilhos, através de charcos, tropeçando em fardos, empurrados pelo vento, pelo homem da capa à espanhola, enfiámos outra portinhola, que se fechou com um estalo tremendo... Ambos arquejávamos. Era um salão forrado dum pano verde que comia a luz escassa. E eu estendia o braço, para receber dos carregadores açodados as nossas malas, os nossos livros, as nossas mantas — quando, em silêncio, sem um apito, o trem despegou e rolou. Ambos nos atirámos às vidraças, em brados furiosos:

— Pare! — As nossas malas, as nossas mantas!... Para aqui!... Oh Grilo! Oh Grilo!

Uma imensa rajada levou os nossos brados. Era de novo o descampado tenebroso, sob a chuva despenhada. Jacinto ergueu os punhos, num furor que o engasgava:

— Oh! Que serviço! Oh que canalhas!... Só

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