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A CIDADE E AS SERRAS

esperava s. ex.a! Ninguém esperava s. ex.a!... (Ele dizia sua incelência)... O sr. Silvério estava para Castelo de Vide desde Março, com a mãe, que apanhara uma cornada na virilha. E decerto houvera engano, cartas perdidas... Porque o sr. Silvério só contava com s. ex.a em Setembro, para a vindima! Na casa as obras seguiam devagarinho, devagarinho... O telhado, no sul, ainda continuava sem telhas; muitas vidraças esperavam, ainda sem vidros; e, para ficar, Virgem Santa, nem uma cama arranjada!...

Jacinto cruzou os braços numa cólera tumultuosa que o sufocava. Por fim, com um berro:

— Mas os caixotes? Os caixotes, mandados de Paris, em Fevereiro, há quatro meses?...

O desgraçado Melchior arregalava os olhos miúdos, que se embaciavam de lágrimas. Os caixotes?! Nada chegara, nada aparecera!... E na sua perturbação mirava pelas arcadas do pátio, palpava na algibeira das pantalonas. Os caixotes?... Não, não tinha os caixotes!

— E agora, Zé Fernandes?

Encolhi os ombros:

— Agora, meu filho, só vires comigo para Guiães... Mas são duas horas fartas a cavalo. E não temos cavalos! O melhor é ver o casarão, comer a boa galinha que o nosso amigo Melchior nos assa no espeto, dormir numa enxerga, e ama- nhã cedo, antes do calor, trotar para cima, para a tia Vicência.

Jacinto replicou, com uma decisão furiosa:

— Amanhã troto, mas para baixo, para a estação!... E depois, para Lisboa!

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