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A CIDADE E AS SERRAS

, pode vir a custarte, a ti Jacinto queijeiro, entre duzentos e cinquenta e trezentos mil-réis.

O meu Príncipe recuou, com dois olhos alegres espantados para mim.

— Como trezentos mil-réis?

— Ponhamos duzentos... Tem a certeza! Com todos esses prados, e os encanamentos de água, e a configuração da serra alterada, e as vacas inglesas, e os edifícios de porcelana e vidro, e as máquinas, a extravagância, e a patuscada bucólica, cada queijo te custa, a ti produtor, duzentos mil-réis. Mas com certeza o vendes no Porto por um tostão. Põe cinquenta réis para a caixa, rótulos, transporte, comissão, etc. Tens apenas, em cada queijo, uma perda de cento e noventa e nove mil oitocentos e cinquenta réis!

O meu Príncipe não desanimou.

— Perfeitamente! Faço um desses espantosos queijos por semana, ao sábado, para o comermos nós ambos ao domingo!

E tanta energia lhe comunicava o seu novo Optimismo, tão ansiosamente aspirava a criar, que logo, arrastando o Silvério e o Melchior por cabeços e barrancos, largou a percorrer a quinta toda, para determinar onde cresceriam, ao seu mando inspirado, os verdes prados, e se ergueriam, rebrilhantes no sol de Tormes, os currais elegantes. Com a esplêndida segurança dos seus cento e nove contos de renda, não surgia dificuldade, risonhamente murmurada pelo Melchior, ou exclamada, com respeitoso pasmo, pelo Silvério, que ele não afastasse brandamente, com jeito leve, como um galho de roseira brava atravessado numa vereda.

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