nós, com vago pasmo e vago medo. Silvério imediatamente o conheceu.
— Como vai a tua mãe? Escusas de te chegar para cá, deixa-te estar aí. Eu ouço bem. Como vai a tua mãe?
Não percebi o que os pobres beicitos descorados murmuraram. Mas Jacinto, interessado:
— Que diz ele? Deixe vir o rapaz! Quem é a tua mãe?
Foi o Silvério que informou respeitosamente:
— É a tal mulher que está doente, a mulher do Esgueira, ali do casal da figueira. E ainda tem outro abaixo deste... Filharada não lhe falta.
— Mas este pequeno também parece doente! — exclamou Jacinto. — Coitadito, tão amarelo!... Tu também estás doente?
O rapazito emudecera, chupando o dedo, com os tristes olhos pasmados. E o Silvério sorria, com bondade:
— Nada! este é sãozinho... Coitado, é assim amarelado e enfezadito, por que... Que quer V. Ex.a? Mal comido! muita miséria... Quando há o bocadito de pão é para todo o rancho. Fomezinha, fomezinha!
Jacinto pulou bruscamente da borda do carro.
— Fome? Então ele tem fome? Há aqui gente com fome?
Os seus olhos rebrilhavam, num espanto comovido, em que pediam, ora a mim, ora ao Silvério, a confirmação desta miséria insuspeitada. E fui eu que esclareci o meu Príncipe:
— Homem! está claro que há fome! Tu imaginavas talvez que o Paraíso se tinha perpetuado