aqui nas serras, sem trabalho e sem miséria... Em toda a parte há pobres, até na Austrália, nas minas de ouro. Onde há trabalho há proletariado, seja em Paris, seja no Douro...
O meu Príncipe, teve um gesto de aflita impaciência:
— Eu não quero saber o que há no Douro. O que eu pergunto é se aqui, em Tormes, na minha propriedade, dentro destes campos que são meus, há gente que trabalhe para mim, e que tenha fome... Se há criancinhas, como esta, esfomeadas? É o que eu quero saber.
O Silvério sorria, respeitosamente, ante aquela cândida ignorância das realidades da Serra:
— Pois está bem de ver, meu senhor, que há para aí caseiros que são muito pobres. Quase todos... É uma miséria, que se não fosse algum socorro que se lhes dá, nem eu sei!... Este Esgueira, com o rancho de filhos que tem, é uma desgraça... Havia V. Ex.a de ver as casitas em que eles vivem... São chiqueiros. A do Esgueira, acolá...
— Vamos vê-la! — atalhou Jacinto com uma decisão exaltada.
E saiu logo do alpendre, sem atender à chuva, que ainda caía, mais leve e mais rala. Mas então Silvério alargou os braços diante dele, com ansiedade, como para o salvar dum precipício.
— Não! V. Ex.a lá na casa do Esgueira é que não entra! Não se sabe o que a mulher tem, e cautela e caldo de galinha...
Jacinto não se alterou na sua polidez paciente: