porque a sentimos, da porta, levantar a voz dolorida:
— Ai! Nosso Senhor lhe dê muita boa sorte! Nosso Senhor o acompanhe!
Quando o Silvério, com as grandes passadas das suas grandes botas, nos colheu, no meio do campo, Jacinto parara, olhava para mim, com os dedos trémulos a torturar o bigode, e murmurava:
— É horrível, Zé Fernandes, é horrível!
Ao lado, o vozeirão do Silvério trovejou:
— Que queres tu outra vez, rapaz? Vai para a tua mãe, criatura!
Era o pequeno rotinho, esfaimadinho, que se prendia a nós, num imenso pasmo das nossas pessoas, e com a confusa esperança, talvez, que delas, como de Deuses encontrados num caminho, lhe viesse afago ou proveito. E Jacinto, para quem ele mais especialmente arregalava os olhos tristes, e que aquela miséria, e a sua muda humildade, embaraçavam, acanhavam horrivelmente, só soube sorrir, murmurar o seu vago: «Está bem, está bem...» Fui eu que dei ao pequenito um tostão, para o fartar, o despegar dos nossos passos. Mas como ele, com o seu tostão bem agarrado, nos seguia ainda, como no sulco da nossa magnificência, o Silvério teve de o espantar, como a um pássaro, batendo as mãos, e de lhe gritar:
— Já para casa! E leve esse dinheiro à mãe. Roda, roda!...
— E nós vamos almoçar, — lembrei eu olhando o relógio. — O dia ainda vai estar lindo.
Sobre o rio, com efeito, reluzia um pedaço de azul lavado e lustroso; e a grossa camada de