poder vir porque o Papá estava desde a véspera com um leicenço, e ela não o queria abandonar». Corri indignado à cozinha, onde a tia Vicência presidia a um violento bater de gemas de ovos dentro duma imensa terrina.
— A Joaninha não vem! Sempre assim! Diz que o pai tem um leicenço... Aquele tio Adrião escolhe sempre os grandes dias para ter leicenços, ou para ter a pontada...
A boa face redondinha e corada da tia Vicência enterneceu-se.
— Coitado! será em sítio que não se pudesse sentar na carruagem! Coitado! Olha, se lhe escreveres, diz-lhe que ponha um emplastrozinho de folhas de alecrim. Era com que teu tio se dava bem.
Eu gritei simplesmente para o moço, que dava de beber ao burro no pátio:
— Diz à Sr.a D. Joaninha que sentimos muito... Que talvez eu lá apareça amanhã.
E voltei à janela, impaciente, porque o relógio do corredor, muito atrasado, já cantara a meia hora depois das dez e o Príncipe tardava para o almoço. Mas, mal eu me chegara à varanda, apareceu justamente na volta da estrada Jacinto, de grande chapéu de palha, no seu cavalo, seguido do Grilo que, também de chapéu de palha, e abrigado sob um imenso guarda-sol verde, se escarranchava no albardão da velha égua do Melchior. Atrás, um moço com uma maleta à cabeça. E eu, na alegria de avistar enfim o meu Príncipe trotando para a minha casa de aldeia, no dia dos meus trinta e seis anos, pensava noutro natalício, no dele, em Paris, no 202, quando, entre todos os