uma das nossas colchas da Índia mais ricas, cor de canário, com grandes aves de ouro. Eu sorria, enternecido. Então estreitámos os ossos num grande abraço, pelo natalício... «Trinta e oito, hem, Zé Fernandes ?» — «Trinta e quatro, animal!» E o meu Príncipe abrindo a mala, sóbria maleta de filósofo, ofereceu os «nobres presentes, que são devidos», como diz sempre o astuto Ulisses na Odisseia. Era um alfinete de gravata, com uma safira, uma cigarreira de aro fosco, adornada de um florido ramo de macieira em delicado esmalte, e uma faca para livros de velho lavor chinês. Eu protestava contra a prodigalidade.
— É tudo das malas de Paris... Mandei-as abrir ontem à noite. E tomei a liberdade de trazer esta lembrança à tua tia Vicência. Não vale nada... É só por ter pertencido à princesa de Lamballe.
Era uma caldeirinha de água benta, em prata lavrada, dum gosto florido e quase galante.
— A tia Vicência não sabe quem é a princesa de Lamballe, mas ficará encantada! E é uma garantia, porque ela suspeita da tua religião, como homem de Paris, da terra das impiedades... E agora, lavar, escovar, e ao almoço!
A tia Vicência pareceu toda surpreendida, e logo encantada com o meu camarada, que ela supusera realmente um Príncipe, arrogante, escarpado e difícil. Quando ele lhe ofereceu a caldeirinha, com um delicado pedido «para se lembrar dele nas suas orações», duas largas rosas, mais róseas e frescas que as rosas que enchiam a mesa, cobriam as faces redondas da boa senhora, que