sempre, quando por ali a levo, a minha alma me pede. O meu Príncipe reprovou, indignado:
— Oh! Zé Fernandes, pois tu, a esta hora, depois de almoço, vais beber vinho branco?
— É um costumezinho antigo... Aqui à taberninha do Torto... Um decilitrozinho... A almazinha assim mo pede.
E parámos; eu gritei pelo Manuel, que apareceu, rebolando a sua grossa pança, sobre as pernas tortas, com a infusa verde, e um copo.
— Dois copos, Torto amigo. Que aqui este cavalheiro também aprecia.
Depois dum pálido protesto, o meu Príncipe também quis, mirou o límpido e dourado vinho ao sol, provou, e esvaziou o copo, com delícia, e um estalinho de alto apreço.
— Delicioso vinho!... Hei-de querer deste vinho em Tormes... É perfeito.
— Hem? Fresquinho, leve, aromático, alegrador, todo alma!... Encha lá outra vez os copos, amigo Torto. Este cavalheiro aqui é o Sr. D. Jacinto, o fidalgo de Tormes.
Então, de trás da ombreira da taberna, uma grande voz bradou, cavamente, solenemente:
— Bendito seja o Pai dos Pobres! E um estranho velho, de longos cabelos brancos, barbas brancas, que lhe comiam a face cor de tijolo, assomou no vão da porta, apoiado a um bordão, com uma caixa de lata a tiracolo, e cravou em Jacinto dois olhinhos dum brilho negro, que faiscavam. Era o tio João Torrado, o profeta da Serra... Logo lhe estendi a mão, que ele apertou, sem despegar de Jacinto os olhos, que se dilatavam mais negros. Mandei vir outro