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A CIDADE E AS SERRAS

uma forma de Sebastianismo. Eu todas as manhãs, mesmo sem ser de nevoeiro, espreito, a ver se chega o meu. Ou antes a minha, porque eu espero uma D. Sebastiana... E tu, felizardo?

— Eu? Uma D. Sebastiana? Estou muito velho, Zé Fernandes... Sou o último Jacinto; Jacinto ponto final... Que casa é aquela com os dois torreões?

— A Flor da Malva.

Jacinto tirou o relógio:

— São três horas. Gastámos hora e meia... Mas foi um belo passeio, e instrutivo. É lindo este sítio.

Sobre um outeirinho, afastada da estrada por arvoredo, que um muro cerrava, e dominando, a Flor da Malva voltava para Oriente e para o Sol a sua longa fachada com os dois torreões quadrados, onde as janelas, de varanda, eram emolduradas em azulejos. O grande portão de ferro, ladeado por dois bancos de pedra, ficava ao fundo do terreirinho, onde um imenso castanheiro derramava verdura e sombra. Sentado sobre as fortes raízes descarnadas da grande árvore, um pequeno esperava segurando um burro pela arreata.

— Está por aí o Manuel da Porta?

— Ainda agora subiu pela alameda.

— Bem: empurra lá o portão.

E subimos, por uma curta avenida de velhas árvores, até outro terreiro, com um alpendre, uma casa de moços, toda coberta de heras, e uma casota de cão, de onde saltou, com um rumor de corrente arrastada, um molosso, o Tritão, que eu logo sosseguei fazendo-lhe reconhecer o seu

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