me maravilhavam, abandonava-se, estirado numa poltrona, aos cuidados de Smith que, como barbeiro (afirmava Fradique), reunia a ligeireza macia de Fígaro à sapiência confidencial do velho Oliveiro de Luís XI. E, com efeito, enquanto o ensaboava e escanhoava, Smith ia dando a Fradique um resumo nítido, sólido, todo em fatos, dos telegramas políticos do Times, do Standard e da Gazeta de Colônia!
Era para mim uma surpresa, sempre renovada e saborosa, ver Smith, com a sua alta gravata branca à Palmerston, a rabona curta, as calças de xadrez verde e preto (cores da sua clã), os sapatos de verniz decotados, passando o pincel na barba do amo, e murmurando, em perfeita ciência e perfeita consciência:—«Não se realiza a conferência do príncipe de Bismarque com o conde Kalnocky... Os conservadores perderam a eleição suplementar de Iorque... Falava-se ontem em Viena dum novo empréstimo russo...» Os amigos em Lisboa riam desta «caturreira»; mas Fradique sustentava que havia aqui um proveitoso regresso à tradição clássica, que em todo o mundo latino, desde Cipião-o-Africano, instituíra os barbeiros como «informadores universais da coisa pública». Estes curtos resumos de Smith formavam a carcaça das suas noções políticas: e Fradique nunca dizia—«Li no Times»—mas «Li no Smith».
Bem barbeado, bem informado, Fradique mergulhava num banho ligeiramente tépido, donde voltava