para as mãos vigorosas de Smith, que, com um jogo de luvas de lã, de flanela, de estopa de clina e de pele de tigre, o friccionava até que o corpo todo se lhe tornasse, como o de Apolo, «róseo e reluzente». Tomava então o seu chocolate; e recolhia à biblioteca, sala séria e simples, onde uma imagem da Verdade, radiosamente branca na sua nudez de mármore, pousava o dedo subtil sobre os lábios puros, simbolizando, em frente à vasta mesa de ébano, um trabalho todo íntimo, à busca de verdades que não são para o ruído e para o mundo
À uma hora almoçava, com a sobriedade dum grego, ovos e legumes:—e depois, estendido num divã, tomando goles lentos de chá russo, percorria nos Jornais e nas Revistas as crônicas de arte, de literatura, de teatro ou de sociedade, que não eram da competência política de Smith. Lia então também com cuidado os jornais portugueses (que chama algures «fenômenos picarescos de decomposição social»), sempre característicos, mas superiormente interessantes para quem, como ele, se comprazia em analisar «a obra genuína e sincera da mediocridade», e considerava Calino tão digno de estudo como Voltaire. O resto do dia dava-o aos amigos, às visitas, aos ateliers, às salas de armas, às exposições, aos clubes—aos cuidados diversos que se cria um homem de alto gosto, vivendo numa cidade de alta civilização!
De tarde subia ao Bois conduzindo o seu fáeton, ou montando a Sabá, uma maravilhosa égua das