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Página:A correspondencia de Fradique Mendes (1902).djvu/126

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noite de grande e ruidoso Inverno: e desde o café, com os pés estendidos à alta chama dos madeiros de faia que estalavam na chaminé, conversávamos sofre a África e sobre religiões Africanas. Fradique recolhera na região do Zambeze notas muito flagrantes, muito vivas, sobre os cultos nativos— que são divinizações dos chefes mortos, tornados pela morte mulungus, Espíritos dispensadores das coisas boas e más, com residência divina nas cubatas e nas colinas onde tiveram a sua residência carnal; e, comparando os cerimoniais e os fins destes cultos selvagens da África, com os primitivos cerimoniais litúrgicos dos Árias em Septa-Sandou, Fradique concluía (como mostra numa carta desse tempo a Guerra Junqueiro) que na religião o que há de real, essencial, necessário e eterno é o Cerimonial e a Liturgia—e o que há de artificial, de suplementar, de dispensável, de transitório, é a Teologia e a Moral.

Todas estas coisas me prendiam irresistivelmente, sobretudo pelos traços de vida e de natureza africana, com que vinham iluminadas e sorrindo, seduzido:

—Fradique! por que não escreve você toda essa sua viagem à África?

Era a vez primeira que eu sugeria ao meu amigo a ideia de compor um livro. Ele ergueu a face para mim com tanto espanto, como se eu lhe propusesse marchar descalço através da noite tormentosa, até aos bosques de Marly. Depois, atirando a cigarette