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Página:A correspondencia de Fradique Mendes (1902).djvu/127

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para o lume, murmurou com lentidão e melancolia:

—Para quê?. . . Não vi nada na África, que os outros não tivessem já visto.

E como eu lhe observasse que vira talvez dum modo diferente e superior; que nem todos os dias um homem educado pela filosofia, e saturado de erudição, faz a travessia da África; e que em ciência uma só verdade necessita mil experimentadores — Fradique quase se impacientou:

—Não! Não tenho sobre a África, nem sobre coisa alguma neste Mundo, conclusões que, por alterarem o curso do pensar contemporâneo, valesse a pena registar... Só podia apresentar uma série de impressões , de pa isagens. E então pior! Porque o verbo humano, tal como o falamos, é ainda impotente para encarnar a menor impressão intelectual, ou reproduzir a simples forma dum arbusto... Eu não sei escrever! Ninguém sabe escrever!

Protestei, rindo, contra aquela generalização inteiriça, que tudo varria, desapiedadamente. E lembrei que a bem curtas jardas da chaminé que nos aquecia, naquele velho bairro de Paris onde se erguia a Sorbona, o Instituto de França e a Escola Normal, muitos homens houvera, havia ainda, que possuíam do modo mais perfeito a «bela arte de dizer».

—Quem?—exclamou Fradique.

Comecei por Bossuet. Fradique encolheu os ombros, com uma irreverência violenta que me emudeceu.