E declarou logo, num resumo cortante, que nos dois melhores séculos da literatura francesa, desde o meu Bossuet até Beaumarchais, nenhum prosador para ele tinha relevo, cor, intensidade, vida. E nos modernos nenhum também o contentava. A distensão retumbante de Hugo era tão intolerável como a flacidez oleosa de Lamartine. A Michelet faltava gravidade e equilíbrio; a Renan solidez e nervo; a Taine fluidez e transparência; a Flaubert vibração e calor. O pobre Balzac, esse, era duma exuberância desordenada e barbárica. E o preciosismo dos Goncourt e do seu mundo, parecia-lhe perfeitamente indecente...
Aturdido, rindo, perguntei àquele «feroz insatisfeito» que prosa pois concebia ele, ideal e miraculosa, que merecesse ser escrita. E Fradique, emocionado (porque estas questões de forma desmanchavam a sua serenidade), balbuciou que queria em prosa «alguma coisa de cristalino, de aveludado, de ondeante, de marmóreo, que só por si, plasticamente, realizasse uma absoluta beleza —e que expressionalmente, como verbo, tudo pudesse traduzir, desde os mais fugidios tons de luz até os mais subtis estados de alma...»
—Enfim—exclamei—uma prosa como não pode haver!
—Não!—gritou Fradique—uma prosa como ainda não há!
Depois, ajuntou, concluindo
—E como ainda a não há, é uma inutilidade escrever.