nimbava de ouro; e sobretudo o subtil encanto dos olhos—dos olhos finos e lânguidos... Olhos finos e lânguidos. É a primeira expressão em que hoje apanho decentemente a realidade. Por que é que não me adiantei, e não pedi uma «apresentação?» Não sei. Talvez o requinte em retardar, que fazia com que La Fontaine, dirigindo-se mesmo para a felicidade, tomasse sempre o caminho mais longo. Sabe o que dava tanta sedução ao palácio das Fadas, nos tempos do rei Artur? Não sabe. Resultados de não ler Tennyson... Pois era a imensidade de anos que levava a chegar lá, através de jardins encantados, onde cada recanto de bosque oferecia a emoção inesperada dum flirt, duma batalha, ou dum banquete... (Com que mórbida propensão acordei hoje para o estilo asiático!) O fato é que, depois da contemplação junto à ombreira, voltei a cear ao pé da minha radiante tirana. Mas por entre o banal sandwich de foie-gras, e um copo de Tokay em nada parecido com aquele Tokay que Voltaire, já velho, se recordava de ter bebido em casa de Madame de Etioles (os vinhos dos Tressans descendem em linha varonil dos venenos da Brinvilliers), vi, constantemente vi, os olhos finos e lângidos. Não há senão o homem, entre os animais, para misturar a languidez de um olhar fino a fatias de foie-gras. Não o faria decerto um cão de boa raça. Mas seriamos nós desejados pelo «efêmero feminino», se não fosse esta providencial brutalidade? Só a porção de Matéria que há no homem, faz com que as mulheres se resignem à
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Aspeto