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Página:A correspondencia de Fradique Mendes (1902).djvu/143

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oy, uma mulher loira, de testa alta e clara, que me seduziu logo, talvez por lhe pressentir, apesar de tão indolentemente enterrada num divã, uma rara graça no andar, graça altiva e ligeira de Deusa e de ave. Bem diferente da nossa sapiente Libuska, que se move com o esplêndido peso de uma estátua! E do interesse por esse outro passo, possivelmente alado e diânico (de Diana), provém estas garatujas.

Quem era? Suponho que nos chegou do fundo da província, de algum velho castelo do Anju com erva nos fossos, porque me não lembro de ter encontrado, em Paris, aqueles cabelos fabulosamente loiros como o sol de Londres em Dezembro—nem aqueles ombros descaídos, dolentes, angélicos, imitados de uma madona de Montegna, e inteiramente desusados em França desde o reinado de Carlos X, do Lírio no Vale, e dos corações incompreendidos. Não admirei com igual fervor o vestido preto, onde reinavam coisas escandalosamente amarelas. Mas os braços eram perfeitos; e nas pestanas, quando as baixava, parecia pender um romance triste. Deu-me assim a impressão, ao começo, de ser uma elegíaca do tempo Chateaubriand. Nos olhos, porém, surpreendi-lhe depois uma faísca de vivacidade sensível—que a datava do século XVIII. Dirá a minha madrinha:—«como pude eu abranger tanto, ao passar, com Libuska ao lado fiscalizando?» É que voltei. Voltei, e da ombreira da porta readmirei os ombros dolentes de virgem do século XIII; a massa de cabelos que o molho de velas por trás, entre as orquídeas,