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Página:A correspondencia de Fradique Mendes (1902).djvu/184

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Partimos, enfim, num galope desesperado. Daí a momentos estávamos assaltando a porta adormecida do Hotel de Braganza, com repiques, clamores, punhadas, cócegas, injúrias, gemidos, todas as violências e todas as seduções. Debalde! Não foi mais resistente ao belo cavaleiro Percival, o portão de ouro do palácio da Ventura! Finalmente o cocheiro atirou-se a ela aos coices. E, decerto por compreender melhor esta linguagem, a porta, lenta e estremunhada, rolou nos seus gonzos! Graças te sejam, meu Deus, Pai inefável! Estamos enfim sob um tecto, no meio dos tapetes e estuques do Progresso, ao cabo de tão bárbara jornada. Restava pagar o batedor. Vim para ele com acerba ironia:

—Então, são três mil-réis?

À luz do vestíbulo, que me batia a face, o homem sorria. E que há de ele responder, o malandro sem par?

—Aquilo era por dizer... Eu não tinha conhecido o Sr. D. Fradique... Lá para o Sr. D. Fradique é o que quiser.

Humilhação incomparável! Senti logo não sei que torpe enternecimento, que me amolecia o coração. Era a bonacheirice, a relassa fraqueza que nos enlaça a todos nós Portugueses, nos enche de culpada indulgência uns para os outros, e irremediavelmente estraga entre nós toda a Disciplina e toda a Ordem. Sim, minha cara madrinha... Aquele bandido conhecia o Sr. D. Fradique. Tinha um sorriso brejeiro e