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Página:A correspondencia de Fradique Mendes (1902).djvu/254

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seu coração como as folhas que a cercam, já murchas decerto e dançando no vento.

Porque não sei como se comportam os teus bosques;—mas aqui as folhas do meu pobre jardim amarelaram e rolam na erva úmida. Para me consolar da verdura perdida, acendi o meu lume:—e toda a noite de ontem mergulhei na muito velha crônica dum Cronista medieval da minha terra, que se chama Fernão Lopes. Aí se conta dum rei que recebeu o débil nome de Formoso, e que, por causa dum grande amor, desdenhou princesas de Castela e de Aragão, dissipou tesouros, afrontou sedições, sofreu a desafeição dos povos, perdeu a vassalagem de castelos e terras, e quase estragou o reino! Eu já conhecia a crônica—mas só agora compreendo o rei. E grandemente o invejo, minha linda Clara! Quando se ama como ele (ou como eu), deve ser um contentamento esplêndido o ter princesas da cristandade, e tesouros, e um povo, e um reino forte para sacrificar a dois olhos, finos e lânguidos, sorrindo pelo que esperam e mais pelo que prometem... Na verdade só se deve amar quando se é rei—porque só então se pode comprovar a altura do sentimento, com a magnificência do sacrifício. Mas um mero vassalo como eu (sem hoste ou castelo), que possui ele de rico, ou de nobre, ou de belo para sacrificar? Tempo, fortuna, vida? Mesquinhos valores. É como ofertar na mão aberta um pouco de pó. E depois a bem-amada nem sequer fica na história.