se tratava já de ser estimado por um homem excelso — mas, coisa preciosa entre todas, de ser amado por uma excelsa mulher. Pois bem! Durante dois anos, em Paris, Fradique fora o eleito de Ana de Léon, a gloriosa Ana de Léon, a mais culta e bela cortesã (Vidigal dizia «o melhor bocado») do Segundo Império, de que ela, pela graça especial da sua voluptuosidade inteligente, como Aspásia no século de Péricles, fora a expressão e a flor!
Muitas vezes eu lera no Fígaro os louvores de Ana de Léon, e sabia que poetas a tinham celebrado sob o nome de Vênus Vitoriosa. Os amores com a cortesã não me impressionaram decerto tanto como a intimidade com o homem das Contemplações: mas a minha incredulidade cessou — e Fradique assumiu para mim a estatura dum desses seres que, pela sedução ou pelo gênio, como Alcibiades ou como Goethe, dominam uma Civilização, e dela colhem deliciosamente tudo o que ela pode dar em gostos e em triunfos.
Foi por isso talvez que corei, intimidado, quando Vidigal, reclamando outro sorvete de leite, se ofereceu para me levar ao surpreendente Fradique. Sem me decidir, pensando em Novalis que também assim hesitava, enleado, ao subir uma manhã em Berlim as escadas de Hegel — perguntei a Vidigal se o poeta das LAPIDÁRIAS residia em Lisboa... Não! Fradique viera de Inglaterra visitar Sintra, que adorava, e onde comprara a quinta da Saragoça,no