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Página:A correspondencia de Fradique Mendes (1902).djvu/27

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sempre empreendidas por uma solicitação da inteligência ou por ânsia de emoções achara-se envolvido em feitos históricos e tratara altas personalidades do século. Vestido com uma camisa escarlate, acompanhara Garibaldi na conquista das Duas Sicílias. Incorporado no Estado Maior do velho Napier, que lhe chamava the Portuguese Lion (o Leão Português), fizera toda a campanha da Abissínia. Recebia cartas de Mazzini. Havia apenas meses que visitara Hugo no seu rochedo de Guernesey... Aqui recuei, com os olhos esbugalhados! Vítor Hugo (todos ainda se lembram), desterrado então em Guernesey, tinha para nós, idealistas e democratas de 1867, as proporções sublimes e lendárias dum S. João em Patmos. E recuei protestando, com os olhos esbugalhados, tanto se me afigurava fora das possibilidades que um português, um Mendes, tivesse apertado nas suas a mão augusta que escrevera a Lenda dos Séculos! Correspondência com Mazzini, camaradagem com Garibaldi, vá! Mas na ilha sagrada, ao rumor das ondas da Mancha, passear, conversar, cismar com o vidente dos Miseráveis—parecia-me a impudente exageração dum ilhéu que me queria intrujar...

— Juro! — gritou Vidigal, levantando a mão verídica às acácias que nos cobriam. E imediatamente, para demonstrar a verosimilhança daquela glória, já altíssima para Fradique, contou-me outra, bem superior, e que cercava o estranho homem duma auréola mais refulgente. Não