singelo — que eu mentalmente classificava de cristalino. Ele estirara-se no divã; eu ficara rente da mesa, onde um ramo de rosas se desfolhava ao calor sobre volumes de Darwin e do Padre Manuel Bernardes. E então, dissipado o acanhamento, todo no apetite de revolver com aquele homem genial ideias de Literatura, sem me lembrar que, como Bacon, ele desejava esconder o seu gênio poético, ou artista insatisfeito nunca reconheceria a obra imperfeita, —aludi às LAPIDÁRIAS.
Fradique Mendes tirou a cigarette dos lábios para rir—com um riso que seria genuinamente galhofeiro, se de certo modo o não contradissesse um laivo de vermelhidão que lhe subira à face cor de leite. Depois declarou que a publicação desses versos, com a sua assinatura, fora uma perfídia do leviano Marcos. Ele não considerava assináveis esses pedaços de prosa rimada, que decalcara, havia quinze anos, na idade em que se imita, sobre versos de Leconte de Lisle, durante um Verão de trabalho e de fé numa trapeira de Luxemburgo, julgando-se a cada rima um inovador genial...
Eu acudi afirmando, todo em chama, que depois da obra de Baudelaire nada em Arte me impressionara como as LAPIDÁRIAS! E ia lançar a minha esplêndida frase, burilada nessa noite com paciente cuidado: — «A forma de V. Ex.a é um mármore divino...» Mas Fradique deixara o divã e pousava em mim os olhos finos de ônix, com uma curiosidade que me verrumava.