para publicar em Lisboa na Gazeta de Portugal. Devia chamar-se A Derradeira Campanha de Júpiter: — e nele obtinha o fundo erudito e fantasista, para incrustar todas as notas de costumes e de paisagens, colhidas na minha viagem do Egito. Somente, para dar ao conto um relevo de modernidade e de realismo picante, levaria a Ninfa das águas, durante a jornada do Nilo, a enamorar-se de Fradique e a trair Júpiter! E ei-la aproveitando cada recanto de palmeiral e cada sombra lançada pelos velhos pilonos de Osíris, para se pendurar do pescoço do poeta das LAPIDÁRIAS, murmurar-lhe coisas em grego mais doces que os versos de Hesíodo, deixar-lhe nas flanelas o seu aroma de ambrósia, e ser por todo esse vale do Nilo imensamente cochonne —enquanto o pai dos deuses, cofiando as barbas encaracoladas, continuaria imperturbavelmente a conceber a Ordem, supremo augusto, perfeito, ancestral e cornudo!
Entusiasmado, já construía a primeira linha do Conto: «Era no Cairo, nos jardins de Chubra depois do jejum do Ramadã...» — quando vi Fradique adiantar-se para mim, com a sua chávena de café na mão. Júpiter também se erguera, cansadamente. Pareceu-me um Deus pesado e mole com um princípio de obesidade, arrastando a perna tarda, bem próprio para o ultraje que eu lhe preparava na Gazeta de Portugal. Ela porém tinha a harmonia, o aroma, o andar, a irradiação duma Deusa!...