não se partiu; nem nós, apesar de tão tênue, o deixamos perder por entre os interesses mais fortes das nossas fortunas desencontradas. Quase todos os três meses trocávamos uma carta—cinco ou seis folhas de papel que eu tumultuosamente atulhava de imagens e impressões, e que Fradique miudamente enchia de ideias e de fatos. Além disto, eu sabia de Fradique por alguns dos meus camaradas, com quem, durante uma residência mais íntima em Lisboa, do Outono de 1875 ao Verão de 1876, ele criara amizades onde todos encontraram proveito intelectual e encanto.
Todos, apesar das dessemelhanças de temperamentos ou das maneiras diferentes de conceber a vida—tinham como eu sentido a sedução daquele homem adorável. Dele me escrevia em Novembro de 1877 o autor do Portugal Contemporâneo:—«Cá encontrei o teu Fradique, que considero o português mais interessante do século XIX. Tem curiosas parecenças com Descartes! É a mesma paixão das viagens, que levava o filósofo a fechar os livros «para estudar o grande livro do Mundo»; a mesma atração pelo luxo e pelo ruído, que em Descartes se traduzia pelo gosto de frequentar as «cortes e os exércitos»; o mesmo amor do mistério, e das súbitas desaparições; a mesma vaidade, nunca confessada, mas intensa, do nascimento e da fidalguia; a mesma coragem serena; a mesma singular mistura de instintos romanescos e de razão exata, de fantasia