Página:A escrava Isaura (1875).djvu/111

Wikisource, a biblioteca livre

— Perdão, senhor; eu não posso comprehendel-o; diz-me que sou livre, e não permite que eu vá para onde quizer, e nem ao menos que eu disponha livremente de meu coração?!

— Isaura, se o quizeres, não serás sómente livre; serás a senhora, a deosa desta casa. Tuas ordens, quaesquer que sejão, os teos menores caprichos serão ponctualmente cumpridos; e eu, melhor do que faria o mais terno e o mais leal dos amantes, te cercarei de todos os cuidados e carinhos, de todas as adorações, que sabe inspirar o mais ardente e inextinguivel amor. Malvina me abandona!... tanto melhor! em que dependo eu della e de seo amor, se te possuo! Quebrem-se de uma vez para sempre esses laços urdidos pelo interesse! esqueça-se para sempre de mim, que eu nos braços de minha Isaura encontrarei sobeja ventura para poder lembrar-me della.

— O que o senhor acaba de dizer, me horroriza. Como se pode esquecer e abandonar ao desprezo uma mulher tão amante e carinhosa, tão cheia de encantos e virtudes, como sinhá Malvina? Meo senhor, perdoe-me se lhe fallo com franqueza; abandonar uma mulher bonita, fiel e virtuosa por amor de uma pobre escrava, seria a mais feia das ingratidões...

A tão severa e esmagadora exprobração, Leoncio sentio revoltar-se o seo orgulho.