Isaura. Minha mãe vendo a tua linda figura e a viveza de teo espirito, — talvez por não ter filha alguma, — desvelou-se em dar-te uma educação, como teria dado a uma filha querida. Ella amava-te extremosamente, e se não deo-te a liberdade foi com o receio de perder-te; foi para conservar-te sempre junto de si. Se ella assim procedia por amor, como posso eu largar-te de mão, eu que te amo com outra sorte de amor muito mais ardente e exaltado, um amor sem limites, um amor que me levará á loucura ou ao suicidio, se não... mas que estou a dizer!... Meo pae, — Deos lhe perdoe, — levado por uma sordida avareza, queria vender tua liberdade por um punhado de ouro, como se houvesse ouro no mundo que valesse os inestimaveis encantos, de que os céos te dotárão. Profanação!... eu repelliria como quem repelle um insulto, todo aquelle que ousasse vir offerecer-me dinheiro pela tua liberdade. Livre és tu, por que Deos não podia formar um ente tão perfeito para votal-o á escravidão.
Livre és tu, por que assim o queria minha mãe, e assim o quero eu. Mas, Isaura, o meo amor por ti é immenso; eu não posso, eu não devo abandonar-te ao mundo. Eu morreria de dôr, se me visse forçado a largar mão da joia inestimavel, que o céo parece ter-me destinado, e que eu ha tanto tempo rodeio dos mais ardentes anhélos de minha alma...