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Página:A escrava Isaura (1875).djvu/145

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A physionomia, cuja expressão habitual era toda modestia, ingenuidade e candura, animou-se de luz insolita; o busto admiravelmente cinzelado, ergueo-se altaneiro e magestoso; os olhos estaticos alçavão-se cheios de esplendor e serenidade; os seios, que até ali apenas arfavão como as ondas de um lago em tranquilla noite de luar, começárão de offegar, turgidos e agitados, como oceano encapellado; seo collo distendeo-se alvo e esbelto como o do cysne, que se aprésta a desprender os divinais gorgeios. Era o sopro da inspiração artistica, que roçando-lhe pela fronte, a transformava em sacerdotiza do bello, em interprete inspirada das harmonias do céo. Ali sentia-se ella rainha sobre seo throno ideal; ali era Caliope sentada sobre a tripode sagrada, avassalando o mundo ao som de enlevadoras e ineffaveis harmonias. Das proprias inquietações e angustias da alma soube ella tirar alento e inspiração para vencer as difficuldades da ardua situação, em que se achava empenhada. Banhou os labios com as lagrimas do coração, e a voz lhe rompeo do peito com tão original e arrebatadora vibração, em modulações tão puras e suaves, tão repassadas de sublime melancolia, que mais de uma lagrima vio-se rolar pelas faces dos frequentadores daquelle templo dos prazeres, dos risos, e da frivolidade!

Elvira acabava de alcançar um triumpho collos-