Página:A escrava Isaura (1875).djvu/148

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stancias fôra victima a mãe de Isaura, e bem sabia, que Leoncio, tão desalmado como o pae, e ainda mais corrupto e libertino, era capaz de excessos e attentados ainda maiores. Tendo perdido a esperança de libertar a filha, entendeo que podia utilizar-se da somma, que para esse fim tinha agenciado, empregando-a em arrancar a pobre victima das mãos do algoz, por qualquer meio que fosse. Bem via, que aos olhos do mundo tirar uma escrava da casa de seos senhores, e proteger-lhe a fuga, além de ser um crime, era um acto desairoso e indigno de um homem de bem; mas a escrava era uma filha idolatrada, e uma pérola de pureza, prestes a ser polluida ou esmagada pela mão de um senhor verdugo, e esta consideração o justificava aos olhos da propria consciencia.

Bem se lembrára o infeliz pae de dar denuncia do facto ás autoridades, implorando a protecção das leis em favor de sua filha, para que não fosse victima das violencias e sevicias de seo dissoluto e brutal senhor. Mas todos a quem consultava, respondião-lhe a uma voz: — Não se metta em tal; é tempo perdido. As autoridades nada tem que ver com o que se passa no interior da casa dos ricos. Não caia nessa; muito feliz será, se sómente tiver de pagar as custas, e não lhe arrumarem por cima algum processo, com que tenha de ir dar com os costados na cadeia. — Onde se