Página:A escrava Isaura (1875).djvu/150

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collocar a si e a sua filha. Durante os longos annos, que esteve feitorando a fazenda do commendador e de outros, não se déra senão uma ou outra fuga insignificante de escravos, por poucos dias e para alguma fazenda vizinha, e portanto não é para admirar, que elle quasi completamente ignorasse a amplitude dos direitos, que tem um senhor sobre o escravo, e os infinitos meios e recursos de que pode lançar mão para captural-os em caso de fuga. Entendeo pois, que em Pernambuco poderia viver com sua filha em plena seguridade, ao menos por tres ou quatro mezes, uma vez que se afastassem da sociedade o mais que pudessem, e procurassem esconder sua vida na mais completa obscuridade.

Isaura tambem, se bem que tivesse o espirito mais atilado e esclarecido, longe do objecto principal de seo terror e aversão, não deixava de sentir-se tranquilla, e até certo ponto descuidosa dos perigos a que vivia exposta. Mas essa tal ou qual tranquillidade só durou até o dia, em que pela primeira vez vio Alvaro. Amou-o com esse amor exaltado das almas elevadas, que amão pela primeira e unica vez, e esse amor, como bem se comprehende, veio tornar ainda mais critica e angustiosa a sua já tão precaria e misera situação.

Alvaro tinha na physionomia, nas maneiras, na voz e no gesto, um não sei quê de nobre,