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Página:A escrava Isaura (1875).djvu/153

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por suas proprias mãos a doce chiméra, que tão deliciosamente a embalava, e em que ás vezes conseguia esquecer por longo tempo sua misera condição, para lembrar-se sómente que amava e era amada.

— Deixemos durar mais um dia — reflectia ella comsigo, — esta illusoria, mas ineffavel ventura. Sou uma condenada, que arrancão da masmorra para subir ao palco e fazer por momentos o papel de rainha feliz e poderosa; quando descer, serei de novo sepultada em minha masmorra para nunca mais sahir. Prolonguemos estes instantes; não será licito deixar passar ao menos em sonhos uma hora de felicidade sobre a fronte do infeliz condenado?... sempre será tempo de quebrar esta fragil cadeia de ouro, que me prende ao céo, e baquear de novo no inferno de meos soffrimentos.

Nesta indecisão, nesta lucta interna, em que sempre a voz da paixão abafava os dictames da razão e da consciencia, passarão-se alguns dias até áquelle, em que Alvaro os induzio por meios quasi violentos a acceitarem convite para um baile. Desde então Isaura entendeo que seria uma deslealdade, uma infamia inqualificavel, conservar por mais tempo o seo amante na illusão a respeito de sua condição, e que não havia mais meio de prolongar, sem desdouro para elles, tão falsa e precaria situação.