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A ESCRAVA ISAURA
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fazendo farfalhar de leve o tope dos coqueiros, que miravão-se garbosos nas lucidas e tranquillas agoas da ribeira.

Corria um bello tempo; a vegetação reanimada por moderadas chuvas ostentava-se fresca, viçosa e luxuriante; a agoa do rio ainda não turvada pelas grandes inchentes, rolando com magestosa lentidão, reflectia em toda a pureza os esplendidos coloridos do horizonte, e o nitido verdor das selvosas ribanceiras. As aves, dando repouso ás azas fatigadas do continuo voejar pelos pomares, prados e balsedos visinhos, começavão a preludiar seos cantos vespertinos.

O clarão do sol poente por tal sorte abraseava as vidraças do edificio, que este parecia estar sendo devorado pelas chammas de um incendio interior. Entretanto quer no interior quer em derredor reinava fundo silencio, e perfeita tranquillidade. Bois truculentos, e nedias novilhas deitadas pelo gramal, ruminavão tranquillamente á sombra de altos troncos. As aves domesticas grasinavão em torno da casa, balavão as ovelhas, e mugião algumas vacas, que vinhão por si mesmas procurando os curraes; mas não se ouvia, nem se divisava vóz nem figura humana. Parecia que ali não se achava morador algum. Sómente as vidraças arregaçadas de um grande salão da frente e os batentes da porta da entrada abertos de par em par denunciavão, que nem todos os habitantes